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Ana Célia Biondi

No dia do Empreendedorismo Feminino Diretora-Geral da JCDecaux fala sobre os desafios vividos ao longo de sua trajetória e compartilha boas práticas com outras mulheres que estão iniciando sua jornada empreendedora.

Quais foram suas principais referências e como impactaram sua construção de carreira?

Ana Célia:

“Duas importantes referências na construção da minha carreira foram minha mãe e meu pai. Em razão da sua origem francesa, minha mãe valorizava muito formação e cultura, então ela sempre nos incentivou a aprender outros idiomas, ler e ter um olhar muito atento para o mundo. Já meu pai foi um exemplo profissional, que mostrou, desde muito cedo, que é possível ser apaixonado pelo trabalho quando se faz o que se gosta e a importância de se reinventar ao longo da carreira. Eu comecei a trabalhar com 17 anos e tive a sorte de encontrar pessoas que me ensinaram muito nesse início. Aos 23, tive a oportunidade de trabalhar na Suíça e lá, mais do que aprender o funcionamento da empresa, precisei entender as diferenças culturais entre o país em que eu estava morando e o meu de origem. Essa experiência foi um turning point para mim e foi fundamental para me tornar a profissional que sou hoje, com um olhar 360º para as pessoas, desafios e oportunidades.”

Quais foram os maiores desafios enfrentados em sua trajetória no Brasil?

Ana Célia:

“Meu primeiro trabalho de carteira assinada foi em uma corretora de valores no centro de São Paulo e, naquela época, alguns locais, como o restaurante da Bolsa de Valores, não eram frequentados por mulheres. Essa restrição me causou muito estranhamento, até porque fui criada em uma casa dominada por mulheres, com minha mãe e quatro irmãs, em que nada era proibido para nós. Trabalhar em um ambiente predominantemente masculino me mostrou a discriminação em função do gênero e foi um grande desafio, mas me deu ainda mais força para mostrar minha competência e conquistar meu espaço.”

“Outro grande desafio foi a maternidade. Há a expectativa de que a mulher faça uma escolha entre trabalhar e ser mãe, porque de um lado espera-se que o lado profissional não seja afetado pela maternidade e de outro que ela seja uma mãe 100% dedicada. No meu caso, optei por trabalhar logo após o nascimento do meu filho, pois na época havia um projeto que estava em fase crítica e eu não me sentia à vontade em não fazer parte dele. Consegui lidar bem com as duas funções ao mesmo tempo, segui amamentando meu filho por 5 meses, mas fui muito julgada pela minha escolha. Acredito que essa escolha deve ser feita especificamente por cada mulher, afinal, somos do mesmo gênero, mas diferentes umas das outras.”

Que conselhos e boas práticas você compartilharia com mulheres que estão iniciando a jornada empreendedora?

Ana Célia:

“Acredito que o ponto de partida, qualquer que seja a trajetória, é uma boa formação, e que não precisa ser acadêmica. Hoje em dia temos acesso a muito conteúdo, desde estudo de casos até palestras e talks incríveis com histórias muito inspiradoras, então é importante fazer uma boa curadoria para enriquecer a formação. Além disso, acredito muito no potencial das diferenças. Nós, mulheres, somos multifuncionais por natureza, temos a capacidade de tratar vários assuntos diferentes ao mesmo tempo. Temos também uma boa dose de sensibilidade, o que nos ajuda muito no relacionamento interpessoal, e o que é gestão se não administrar pessoas? Acredito que temos grandes vantagens comparativas em vários aspectos, e devemos explorar isso ao invés de procurar nos “igualar” para nos sobressair.”

“Uma lição que é muito importante para quem quer empreender e vale para todos é: errar faz parte e vai acontecer. O importante é aprender com o erro, tirar sempre algo positivo de uma situação, mesmo que adversa. Outra dica que acho importante é: seja tolerante. Atualmente, as pessoas estão muito intolerantes com tudo, prazos, horários, hierarquia, pensamentos diferentes… Tolerância é necessária em qualquer ambiente, seja na família, nos relacionamentos afetivos ou nas empresas. É preciso exercitar a capacidade de respeitar e aceitar o outro. E seja resiliente. Saber se adaptar às diferentes situações é uma habilidade essencial em um mundo em que tudo muda tão rapidamente.”

20 janeiro 2021