Equilibrando carreira e saúde: Os desafios das mulheres com câncer de mama no mercado de trabalho

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Equilibrando carreira e saúde: Os desafios das mulheres com câncer de mama no mercado de trabalho

O Outubro Rosa é uma campanha de conscientização sobre o câncer de mama que ocorre anualmente com objetivo de alertar tanto as mulheres, como a sociedade em geral sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.

Dados de uma pesquisa, publicada na Public Health in Practice, apontam que durante os meses de outubro a dezembro, a procura por exames de mamografia aumenta em 39%. Em contrapartida, no decorrer dos outros nove meses do ano, a média de exames diminui em até 20%.

Quando diagnosticado, no contexto do mercado de trabalho, o câncer de mama apresenta ainda mais desafios para as mulheres. A falta de um ambiente seguro com políticas de apoio que garantem os direitos e adaptações no dia a dia da operação são fatores que dificultam ainda mais o desenvolvimento da carreira durante o tratamento.

Para discutir o impacto do câncer de mama no mercado de trabalho e explorar as questões relacionadas às campanhas de prevenção e apoio às mulheres, O #NEOEntrevista conta com a participação de Nina Caleffi, gerente de marketing com mais de 11 anos de experiência no tema.

NEO – Quais são os principais desafios que as mulheres enfrentam ao lidar com o câncer de mama enquanto gerenciam suas carreiras?

Nina Caleffi: As mulheres que enfrentam o diagnóstico de câncer já estão passando por uma fase muito difícil. Além da carreira que acaba se tornando muito complicada, o câncer em si traz uma série de desafios, tanto físicos quanto emocionais. Com isso, estar na empresa se torna mais complexo, não só por às vezes enfrentar uma certa discriminação, mas também pelo ambiente de trabalho que pode não estar preparado para acolher da maneira correta

Acho que existe esse desafio na vida das mulheres, no qual muitas vezes deixam de ganhar oportunidades por falta de entendimento do empregador e porque acabam lidando com pessoas que não sabem como enfrentar a situação e como acolher. Além disso, por acharem que não estão preparadas para fazer as tarefas do trabalho, muitas vezes, não dão oportunidade para avançar na carreira, pois equivocadamente não entendem como vai ser o tratamento.

NEO – As empresas estão preparadas para prestar esse amparo ou ainda existe um gap?

NC: Embora algumas empresas estejam progredindo na criação de ambientes de trabalho mais inclusivos, eu acho que ainda precisa melhorar muito as políticas e práticas para oferecer um apoio necessário à essas mulheres com câncer de mama. Um lado positivo é que essas empresas têm aproveitado muito o outubro rosa para levar palestras e apoiarem as ações que acontecem durante esse mês.

NEO – Existem programas no mercado que podem se tornar referência nesse assunto?

NC: A paciente em si tem muitos direitos, mas no Brasil é um pouco mais difícil de garanti-los, já que dependemos de um sistema que não consegue atender à todas as necessidades. Eu sei que, por exemplo, existem redes femininas de combate ao câncer tanto nos estados, como no território nacional. No âmbito brasileiro, eu posso citar a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA). Com mais de 70 associadas, a associação ajuda a navegar durante essa fase garantindo uma rede de apoio e políticas públicas ao longo do tratamento.

NEO – Você acredita que a internet é um lugar seguro para apoiar as mulheres durante a jornada de conscientização sobre o câncer de mama?

NC: Eu tenho certeza de que as redes sociais ajudam muito as mulheres, já que são uma forma de apoio e nelas você pode encontrar pessoas que estão passando pela mesma situação. Por outro lado, existe muito mito que é espalhado como verdade, principalmente pela falta de conhecimento no assunto.

Tem uma estatística sobre o Google que mostra a perspectiva dessas mulheres sobre a internet. Das fontes entrevistadas, muitas apontam que não há clareza no detalhamento sobre a doença no consultório médico, levando 89% delas a buscar respostas tanto no Google, como em sites de saúde. Em resumo, acredito que a internet e suas ramificações se tornaram mais uma rede de apoio para as pacientes.

NEO – Qual modelo de campanha é mais efetivo para conscientizar as mulheres sobre a importância do tema dentro das empresas?

NC: Histórias reais de pessoas reais é sempre o melhor caminho, pois expressam esperança para o próximo.  Acredito que essas campanhas são legais, principalmente em formato de vídeo, já que conseguem transmitir todo o sentimento envolvido. Mas, acima de tudo, acho muito importante ter fontes e mostrar os dados. Então, por exemplo, no Instagram, conseguir preparar os reels de forma simples, para assistir e compreender a mensagem – é importante que seja direto ao ponto, para todo mundo entender.

NEO – Para encerrar, de que forma as empresas podem oferecer um ambiente de trabalho mais inclusivo para apoiar as mulheres com câncer de mama?

NC: Hoje em dia é possível citar uma série de iniciativas que vão além de fornecer planos de saúde como, por exemplo, empresas que visitam determinados locais de trabalho para conscientizar mulheres. Para mais, podemos falar também sobre startups que usam tecnologias para fazer o rastreamento da doença.

Na startup em que eu trabalho, criamos uma tecnologia que utiliza AI e algoritmo proprietário que ajuda mulheres a se conhecerem melhor e identificar riscos para desenvolvimento de câncer. Percebo que essa é uma demanda frequente entre os RH’s, uma vez que eles procuram essa tecnologia para ajudar suas equipes a descobrirem o câncer mais cedo.

Aliado a isso, dentro das organizações, existem vários cursos que estão sendo proporcionados não só para RH aprender sobre a maneira correta de lidar com uma funcionária durante essa fase, como também para os colegas de trabalho saberem como acolher.

Os resultados de uma pesquisa lançada recentemente revelaram que 28% das mulheres com câncer de mama responderam que a doença afeta os seus empregos e a renda familiar. É muito complexo todo o entorno, por isso dentro do ambiente de trabalho o empregador deve buscar programas de conscientização e promover mais ações. Acredito que isso tem que se tornar um programa ao longo do ano, porque a mulher não tem câncer só em outubro.


Referências:

Antonini, Marcelo, et al. “Does Pink October really impact breast cancer screening?.” Public Health in Practice 4 (2022): 100316. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666535222000921

Pesquisa ‘’Um Olhar sobre o Câncer de Mama no Brasil’’. Leia mais em: https://saude.abril.com.br/medicina/outro-olhar-para-o-cancer-de-mama/mobile

24 outubro 2023