Renata Maia Luque | Diretora de Vendas e Marketing

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Renata Maia Luque

Renata é Diretora de Vendas & Marketing, mãe do Gabriel e do Pedro, 9 e 7 anos. Diz ter sido uma pessoa “workaholic” por toda a carreira. Há pouco tempo aprendeu a ser mais disciplinada com o trabalho e se sente bem resolvida com a equação pessoal x profissional, principalmente por ter vivenciado ambientes corporativos preocupados com sustentabilidade e bem-estar.

NEO:

Você sente que o fato de ser mulher e depois ser mãe, gerou algum obstáculo na sua carreira e nos ambientes vivenciados por você? Sente que precisou se provar mais?

Renata Maia Luque:

“Sem dúvida, principalmente com relação à maternidade, você se sente colocada em xeque quando vira mãe. Ainda mais no meu caso que tive um segundo filho pouco tempo depois do primeiro. Comecei a ser questionada se manteria a produtividade, se teria o mesmo tempo para me dedicar ao trabalho como antes. Quando converso sobre este assunto com amigas, vejo que esses obstáculos perduram, especialmente em empresas com uma liderança masculina que ainda não entendeu quais os benefícios de se ter uma mulher em uma posição de liderança. Ainda há empresas que enxergam a liderança feminina de forma muito estereotipada, quando uma mulher grita no trabalho, ela é julgada como instável ou atitude é justificada por alterações hormonais. Por outro lado, quando um homem grita no ambiente de trabalho, ele é caracterizado como enérgico, líder impositivo e firme. Acredito que estamos um passo à frente, de entender que nenhuma das duas atitudes seja aceitável.

Nesse sentido a mulher exerce uma liderança mais empática, com uma escuta ativa e aberta a receber ambientes de trabalho cada vez mais diversos. Preconceito, racismo e homofobia podem não ser uma questão de gênero, mas acredito que as mulheres em posição de liderança exercem a inclusão de forma mais empática.

Líderes com visões retrógradas sobre diversidade tem seus dias contados, pois vemos a geração que está chegando agora cada vez mais desprendida e que repudia qualquer tipo de discriminação.”

NEO:

Quanto mais mulheres vemos em posições de liderança, mas sentimos que ali é o nosso lugar, e pertencemos a este ambiente. Como podemos criar este ambiente para as mulheres, e torná-lo cada vez mais igual?

Renata Maia Luque:

“Muitas pessoas desistem no caminho da ascensão profissional pois acreditam que não vale o desafio de enfrentar os obstáculos da falta de representatividade. Eu acredito que devemos expor quem são as mulheres em cargos de liderança, seja em podcasts, campanhas e vocês recrutadores estarem sempre apresentando currículos de mulheres para as empresas, as forçando a possuir um board mais diverso e mostrando que é possível chegar lá.

Como essa desigualdade está muito estruturada na nossa cultura e sociedade, se não forçarmos de alguma forma a entrada desses profissionais talvez sigamos com uma representatividade baixa. Estamos em um momento não só de entender o racional de que esse problema acontece, mas também de tomar uma ação para de que isso mude.

No momento que você tem uma posição de liderança, depende de você gerar uma mudança. Eu busco contratar diversidade, o que não deveria nem ser uma condição de diferenciação, mas ainda precisa ser. Você tem que ter um cuidado ao olhar, por mais que já avançamos, ainda estamos muito longe de onde temos que chegar. Não podemos nos acomodar, nós que possuímos um certo poder para impactar e gerar essa mudança, devemos comprar essa briga.”

NEO:

Uma sensação comum entre mulheres na sociedade é a chamada Síndrome da Impostora, o sentimento de que serão descobertas como uma fraude a qualquer momento quando estão obtendo sucesso, ao invés de ficarem confortáveis e orgulhosas de suas conquistas. Você já sentiu isso em algum momento da sua carreira?

Renata Maia Luque:

“Acho que senti sim, sempre foi uma coisa enraizada e estruturada, a mulher sempre foi diminuída, colocada como alguém que não era tão capaz quanto os homens. Precisamos romper essa barreira cultural.

No começo sentimos isso, pois estamos cercadas de homens, pois temos uma insegurança que foi colocada em nós quando nascemos, são poucas as que já nascem seguras de si e conscientes do seu valor e poder.

A síndrome da impostora não é obrigatoriamente para o ambiente corporativo, acontece muito com relação à maternidade também, nos questionamos se somos boas mães quando todos acham que somos.

Por sorte e mérito meu, tive o prazer de trabalhar com grandes pessoas, gentis e generosas em reconhecer o meu talento, valor, potencial e competência, isso foi fundamental. Com esse reconhecimento, saímos de um papel de insegurança para acreditarmos em nós mesmas. Acredito que por isso minha síndrome da impostora durou pouco tempo, pois sempre estive cercada de bons profissionais. É o que cada vez mais devemos exercer no papel de liderança, reconhecer, motivar, elogiar, isso só vai fazer a pessoa se tornar um profissional melhor.”

20 maio 2022